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Entramos no segundo turno das eleições nas principais capitais brasileiras e o tema da transformação digital da gestão municipal não está em pauta em nenhuma dessas candidaturas, salvo algumas tímidas exceções.

Qualquer um sente na pele a deficiência da política de desburocratização quando necessitamos minimamente do governo municipal.

Por exemplo, para o pagamento de um imposto como o ITBI (Imposto de transmissão de bens imóveis).

São desafios em cascata, desde a dificuldade em encontrar o site até o martírio de localizar informações mínimas que auxiliem no processo de pagamento.

No meu caso, por exemplo, sou um profissional que atua com tecnologia, portanto familiarizado com plataformas de internet.

No site da cidade de São Paulo, fui direcionado para uma planilha extremamente confusa e que indicava como solução final, a frustrante indicação de ter que ir até a prefeitura para fazer o pagamento.

Detalhe: com o endereço errado, pois ela já havia se mudado para outro edifício há mais de seis meses.

A falta de acessibilidade é outro drama que atinge as camadas mais carentes da população.

Não existem políticas de transformação digital com pontos de WIFI em praças e locais públicos, para que o povo consiga ter acesso aos serviços da prefeitura de forma gratuita.

Em São Paulo foi desenvolvido o Poupa Tempo, pelo governo do Estado, que é uma central de serviços para atender o cidadão.

O projeto é eficiente e deveria existir em todos os Estados.

Deveria!

Mesmo em São Paulo, o universo de cidades com esse serviço é ínfimo, temos 27 de um total de 645 cidades (menos de 5%).

Ampliá-lo não exige enormes investimentos e nem grandes estruturas, basta implantar a tecnologia existente, já testada e aprovada.

A burocracia sempre foi moeda de troca na política.

Quanto mais complicado for um processo, teremos mais necessidade do agente público.

E isso está bastante presente, infelizmente, na gestão municipal.

Robustos investimentos em tecnologia em suas cidades fizeram com que a Coréia do Sul saísse, há dez anos, de uma das últimas posições no ranking mundial de PIB (Produto Interno Bruto), para um patamar pouco abaixo do brasileiro.

Ao promovermos a proporcionalidade de acordo com o número de habitantes, um coreano chega a ser quatro vezes mais rico que um brasileiro.

A inclusão digital poderia atuar em duas das maiores deficiência das cidades no Brasil: segurança pública e saúde.

Segurança hoje é monitoramento por vídeo câmeras, e esse serviço deveria ser responsabilidade das guardas municipais.

É fato que se alguém estiver olhando, o infrator pensará muitas vezes antes de cometer o crime.

Está provado que regiões monitoradas reduzem significativamente o risco de assaltos e de violência.

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O segundo objetivo, que deveria ser municipal, é o acompanhamento do atendimento da população na rede pública de saúde.

Vivemos o drama da subutilização do sistema existente.

É algo rotineiro em países desenvolvidos, mas no Brasil as prefeituras não se preocupam em orientar o cidadão onde ele seria atendido mais rapidamente. As consequências dessa falta de eficiência e agilidade podem ser trágicas.

Se cada prefeitura colocasse no teto da sua sede uma antena de recepção de sinal, já teríamos no mínimo 5.700 antenas instaladas.

E quem seriam os mais favorecidos por um serviço como este?

Existem no Brasil mais de 1.200 cidades que possuem menos de 5.000 habitantes, que equivalem a 22,5% do total de cidades.

A inclusão digital começa pelas pessoas.

Se elas se sentirem apoiadas pelas prefeituras e os serviços forem requisitados por celulares, presentes em 100% da população ativa, teremos uma melhoria significativa dos serviços prestados.

E as soluções digitais poderiam ir para o trânsito, transporte público, escolas, água, luz, e outras infinidades de setores que são responsabilidade dos municípios.

O que falta para que isso se torne realidade?

Apenas vontade política e um claro entendimento de que a tecnologia é capaz de promover simples revoluções que se refletem em inúmeros benefícios aos cidadãos.

O que é de se espantar é que nos discursos dos candidatos não existe um plano minimamente desenvolvido para a implantação em larga escala de investimentos em transformação digital.

O que se ouve, na verdade, é uma retórica ainda engessada na corrosiva burocracia, baseada em pensamentos retrógrados, corporativistas e de resistência a mudanças.

Nossos futuros líderes parecem querer enfrentar os problemas municipais com a velha caneta, debruçados em imensas pilhas de papéis.

É preciso colocá-los em modo ‘on’, urgentemente.

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